MUTANTE DO AMOR

Vou adentrar no véu de tua carne

Entrar no arco de teu colo arfante

Como um mutante abrindo vórtices

Construir pontes constritas

Pular de cabeça feita sussurrante

Neste mar de oceanos profundos

Gotas salgadas de instintos vapores

Percorrendo macios leitos d’água

No circulo do teu peito dunas ardis

Passo pelo estreito de teus quadris escamados

A loção refrescante da maresia exalando de teus poros

Sinto tua pulsação febril e te exploro

Teu articular movimento sutil

Já não és mais tu que está ali

Mas o orgânico no inorgânico

Tentas te agarrar as raízes selvagens

Que brotam da arrebentação

De teu mar bravio imaginário

Fêmea enjaulada no barco do pescador

Rede aberta, mar adentro, mais agora é mansidão

Saís de teu delírio e sem vestígio

O mutante a pouco fora embora

Não sabes se era sonho ou imaginação...

Se não fosse por um único detalhe

Pelo espelho d’água

Avistavas longe na vermelhidão do arrebol

Um homem com asas que voava em direção ao por do sol.

E nesta loucura e meia

Olhastes pra baixo e percebestes que estava

Faltando um pedacinho de tua cauda de sereia...?