CAIS

Cai a vida e as horas.

Cais onde moras e os tons.

Os degraus me conduzem

ao sol,

me incendeiam.

Tu me incendeias

e incendeias a ti mesma,

pois sentes o mesmo que eu,

sofres comigo, amas comigo

amas a mim.

Cai a vida, minha vida.

Sinto-me envelhecido, ultrapassado.

Milhares de vozes gritam por mim,

choram por mim, apedrejam-me.

Cais da vida. Choras por mim.

Sonhas na vida e ris de mim,

repartes o som e soltas-me.

Sinto-me envelhecido,

teu riso me esconde de mim

e fujo, e finjo, e rimo

e levanto-me quando tu cais

e tu cais para mim

e continuamos juntos, no cais.

(Poema publicado no livro cúmplices, de 1993).

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 10/05/2011
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