CAIS
Cai a vida e as horas.
Cais onde moras e os tons.
Os degraus me conduzem
ao sol,
me incendeiam.
Tu me incendeias
e incendeias a ti mesma,
pois sentes o mesmo que eu,
sofres comigo, amas comigo
amas a mim.
Cai a vida, minha vida.
Sinto-me envelhecido, ultrapassado.
Milhares de vozes gritam por mim,
choram por mim, apedrejam-me.
Cais da vida. Choras por mim.
Sonhas na vida e ris de mim,
repartes o som e soltas-me.
Sinto-me envelhecido,
teu riso me esconde de mim
e fujo, e finjo, e rimo
e levanto-me quando tu cais
e tu cais para mim
e continuamos juntos, no cais.
(Poema publicado no livro cúmplices, de 1993).