Tortura
Indebelável dor minh'alma martiriza;
entre prantos, debalde o coração se agita.
Esperança alguma ao longe o olhar divisa;
o riso já não sorri, chora; o soluço já não soluça, grita.
Meu canto é triste como é triste tudo.
Não tem frescor o brisa, nem as flores cor;
não mais importa-me a vida e apenas o absurdo
querer a morte pra não morrer de amor.
Como um sabre ardente a dor o coração transpassa
e, no sofrimento extremo, sem força se debate;
e meu ser sem vida como um rir sem graça
entre a vida e a morte aos poucos se reparte.
Ante a tortura desse amar sem conta
não há suplício que lhe seja par;
e tal como a nau que o mar revolto afronta,
meu ingênuo peito mais e mais quer amar.
Eternas noites de insônia e prantos
écos do íntimo desta alma amante.
Prisioneiro dos desejos, mártir dos encantos,
ante o infindo amor meu penar é só um instante.
Chama ardente que ao vento bruxuleia,
imorredoura dor que o peito agita;
tal é o amor, liberdade e cadeia,
vantade de calar-se, força que grita.