Cru[el]amor
Muitas promessas de amor
eu quis
eu tive
e todas perdi
por vaidade
por desespero
por falta de opção
como única condição.
Por ser ele todo movimento
e estar continuamente mudando
me tragou em seu processo imparcial
bonito, ativo, explorador, significativo.
Sou criação do amor,
cão indomesticável
sou utopia, ele, o fluxo da vida
sou ele em abundância,
em demência desproporcional.
Nunca soube explorá-lo de igual pra igual.
via-o passar montado em seu lirismo autodidata
rir nos corações dos peregrinos
fugir da fuga dos enamorados
regar com requintes de crueldade o ciúme
e acenar aos envenenados com seu cálice
suscitando a dilacerante dor da saudade.
De maneira ambiciosa
e quase silenciosa
sofri mutações internas,
me enchi de deserto.
Os incapazes famigerados,
todos eles,
meus odiosos amados.
Mantinham-me num falso céu
sob efeitos alucinógenos
brincavam de amor
com quem nunca soube
ao certo o incerto universo
de amar outro eu longe do seu.
Talvez eu ainda esteja embriagada
possuída pelos demônios que rastejam
implorando a volta,
uma nova chance no reino de Deus,
perdão no peito dos seus.
Quem souber do que se trata, que saiba.
Eu só sei que fiz das perturbações palavras,
testemunhas vivas de tudo o que acredito,
contra o amor em mim contido
Sozinha desprezo sem lamento o amor,
o infeliz amor que me abandonou
e me faz morrer de dor.