Cru[el]amor

Muitas promessas de amor

eu quis

eu tive

e todas perdi

por vaidade

por desespero

por falta de opção

como única condição.

Por ser ele todo movimento

e estar continuamente mudando

me tragou em seu processo imparcial

bonito, ativo, explorador, significativo.

Sou criação do amor,

cão indomesticável

sou utopia, ele, o fluxo da vida

sou ele em abundância,

em demência desproporcional.

Nunca soube explorá-lo de igual pra igual.

via-o passar montado em seu lirismo autodidata

rir nos corações dos peregrinos

fugir da fuga dos enamorados

regar com requintes de crueldade o ciúme

e acenar aos envenenados com seu cálice

suscitando a dilacerante dor da saudade.

De maneira ambiciosa

e quase silenciosa

sofri mutações internas,

me enchi de deserto.

Os incapazes famigerados,

todos eles,

meus odiosos amados.

Mantinham-me num falso céu

sob efeitos alucinógenos

brincavam de amor

com quem nunca soube

ao certo o incerto universo

de amar outro eu longe do seu.

Talvez eu ainda esteja embriagada

possuída pelos demônios que rastejam

implorando a volta,

uma nova chance no reino de Deus,

perdão no peito dos seus.

Quem souber do que se trata, que saiba.

Eu só sei que fiz das perturbações palavras,

testemunhas vivas de tudo o que acredito,

contra o amor em mim contido

Sozinha desprezo sem lamento o amor,

o infeliz amor que me abandonou

e me faz morrer de dor.

Dica Borges
Enviado por Dica Borges em 09/05/2011
Código do texto: T2958551
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