"QUE SAUDADE LOUCA VOCE CAUSA EM MIM! "

         Nossos filhos nem tinham nascidos, e dos detalhes talvez você nem se recorda, mas naquele dia cheguei em casa exaustíssimo, e do jeito que cheguei, joguei-me no sofá. Você estava preparando o jantar, mas veio ao meu encontro , beijou minha face,e sentindo meu cansaço,tirou meus sapatos, minhas meias, minha camisa,afrouxou minha cinta ...ajeitou o travesseiro sob minha cabeça ; por uns instantes afastou-se de mim, para desligar o fogo no fogão. Voltou com um cálice de vinho ,e enquanto eu tentava reanimar-me, eram meus cabelos acariciados pelas tuas aveludadas mãos.
Dizer-te alguma coisa foi me impossivel, pois fui contido pelos teus quentes lábios. Sentia-me uma criança mimada , e como criança que sou, procurei pelos teus seis, e na ânsia do desejo, adormecemos ali mesmo no tapete da sala. Tarde da noite, despertei-me do sono, e uma onda de desespero tomou conta de mim ; talvez uma reação de um assunto discutido numa reunião em trabalho e, que por sinal , me causara muito desconforto. Tentei de todas as formas dialogar contigo a respeito do acontecido, e contrariando o que havia aprendido com um grande escritor “não haverá lugar na feira para minha casa e nem lugar em minha casa para a feira” tentava dividir contigo os problemas e os atritos que eu tivera; mas cansada pelas caricias enlouquecidas , não conseguia dar-me ouvidos, e balbuciando as palavras, novamente adormecia.
Eu ,num instante de loucura,de estupidez singular, arrumei minhas malas e sai, sem se quer olhar para traz , indo morar num confortável hotel.
Tudo novo, e no mais requintado bom gosto, me sentia num paraíso. Hidromassagem, revistas do dia, drinks de elevado preço, televisão moderníssima , telefone , filmes a escolher...
Vários dias passei no aconchego da solidão, no silencio e no super conforto material, mas um dia como num momento de extase, automaticamente minhas mãos procuraram por você; alcancei o travesseiro ao meu lado, abracei-o, mas tudo era diferente , teu cheiro não fazia parte daquele ambiente, meus lábios que antes eram lubrificados pela tua essência, estavam ressecados,senti o gosto do teu café,da tua comida apetitosa, senti a falta daquelas mãos que tanto me acariciavam, uma vontade louca tomou conta do meu ser; vontade de te ver , de te sentir..., de te tocar...de te ouvir...Que saudade!!!..
Crucifiquei-me de todas as formas e tentei descobrir o que havia feito,o que tinha acontecido comigo, mas tudo me parecia perdido. Não era utopia, mas realidade : eu havia te deixado de uma forma covarde...e nem se quer, te falado o porque.
Vagando e perdido na imensidão do conforto, me sentia pressionado pela solidão ,a falar com você a qualquer preço, mas como? Qual seria tua reação? Então naufragado pela saudade, busquei palavras profundas no meu mar de paixão, compuz e cantei bem silenciosa pra voce, esta canção valseada:

“Muitas vezes me sinto cansado,
Estressado até de ti ver,
procuro um lugar bem distante,
pra da minha rotina esconder.
Um dia eu passo contente,
abraçado com a minha solidão,
mas noutro dia a saudade maluca, aperta e machuca, o meu coração...
Noutro dia a saudade maluca, aperta e machuca...meu coração.
Que saudade louca, você causa em mim!,
Sou teu prisioneiro, teu amor verdadeiro,
acredita , acredita... ,em mim.
A tua ausência me fez entender,
e na escola da solidão , aprendi compreender,
Que minha mesa é farta, e esta fartura; chama você”

Num impulso sobrenatural tomei coragem , disquei o numero do nosso telefone e,com a fronha do travesseiro molhado pelas lagrimas derramadas pelo arrependimento, tapei o aparelho para que você não percebesse minha voz pranteada:
Alô!
---Oi amor! Onde você está? Estou com saudades! Venha logo meu anjo, estou te esperando! Você está trabalhando?
As lagrimas banharam meu rosto. Emudeci. Paguei a conta e desesperadamente voei até os teus braços.
Enquanto deliciava dos teus beijos, cantarolava em silencio ,somente para minha alma ouvir: “fui chegando de vagar....mas deixei a luz entrar primeiro, minhas malas coloquei no chão, eu voltei..., eu voltei para ficar, porque aqui é meu lugar...”

NOTA:
Esta é uma crônica de ficção, mas quantos homens precisavam ouvir umas palavras com aparencia ingenua para livrar da falencia seus casamentos!