SALVO PELO AMOR
Quando me vi e nada vislumbrei daquilo que haveria de constar
Na finda hora de meu ser arrematar, notei que mal saíra do alicerce
Em meio à calmaria que estremece, tendo por deserto o pleno mar
Eu era a turva imagem de tudo que não há e um elevar que apenas desce!
Eu tinha o artifício de toda fonação, mas não dizia o que queria pronunciar
Tantas superfícies pude tocar e nada que alegrassem minhas mãos
À alma uma coletânia de vãos buscando algo para se complementar
A pele um arrepio a procurar e um solo para semear seus grãos!
Haviam passos e estradas, mas não cheguei a parte alguma
Sob a espuma de ilusões somente a dor dos pregos que me calçavam
Antes de correr meus olhos cansavam, como que açoitados por bruma
Como andarilho em gigantesca duna, meus sonhos em si afundavam!
Até que vi sobre as colinas da esperança a luz castanha de um olhar
Que conseguiu finalizar minha plenitude outrora rascunhada
Com a força da impetuosa enxurrada e a energia de um raio a trovejar
Ela mudou meu próprio modo de me olhar e se tornou a minha amada!
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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor