Ambivalência

O espaço que nos separa

é o encontro das águas:

ora rio, ora mar.

Às vezes a distância é o infinito

quanto mais próximo, mas distante,

quanto mais cor, mais acizentado.

Muitas vezes o nosso beijo

traz a douçura do mel

extraído do doce da vida.

Em outros instantes

o amargo do fel

destilado na praça

onde homens se encontram.

Ás vezes o teu abraço

é laço envolvente, radiante

de sonhos e desejos.

Outras vezes é armadilha

que me aprisiona

me tira do pruno

me deixa sem rumo.

Tua canção, às vezes,

é melodia de águas

que correm na superfície.

ostras vezes é um grito,

como que de estridente

lamento.

Ás vezes o teu amor

é um raio de luz que invade

minhas retinas e me faz ver

quão belo é o sol da manhã.

Em outras vezes,

é espada cortante

a dividir-me

no cair da tarde.

E assim vivemos

essa ambivalência,

á espera de que venha

nos socorrer

a primavera.

Publicado no livro "Tempo de Viver" - 2003.