Outrora
Outrora, me pedia carícias e despia-se às pressas, ansiosa por mim.
Esfregava-se ardente, sua mão em meu sexo, intenso prazer.
Outrora, me oferecia o céu, imenso gozo, palavras na orelha.
Aliviava-me à alma a violência do amor, as unhas cravadas no peito.
Saciada, escorria travessa, recusava-me beijos, dizia-se feliz.
Outrora, éramos risos embaixo das mantas, negávamos o pranto.
E eram longas as tardes, infinitos os filmes e o ato de amar.
Outrora, éramos promessas de um tempo pueril, da vida futura.
E havia mais vida em minha vida, um consolo para as dores.
Outrora éramos ricos, embora pobres, e aceitava-me assim.
Hoje me recusa, esquece aos poucos as delícias, recusa-me.
Outrora, havia amor e não este ingrato parente, ódio nocivo.
Outrora, era nossa a minha cama, e era quarto este porão.
Outrora, eu era homem e menino, era feliz ou menos vazio?