O Itinerário do Poema
Era o caos no universo das palavras.
na confusa forjaria das estrelas
a luz se dispersava sem destino...
A lua mudava de quarto sem repórter
que timbrasse seu trajeto luminoso.
Os sinos transpiravam sílabas trêmulas
na efêmera paisagem dos ocasos.
E a poesia das auroras não passava
de vago esplendor desperdiçado.
Não havia registro musical que relatasse
a sinfonia de cristal dos passos frágeis
no tapete de folhas das calçadas,
nem alfabeto humano que imprimisse
o idioma dos anjos na canção,
nem tradutor de flores que soubesse
do diário do belo na roseira
escrito com pétalas e aromas.
As palavras mais bonitas
dormiam despidas no silêncio,
exiladas em nuvens de papel
no sono empoeirado das gavetas.
Enquanto o poema era pedra,
sem forma nem pena que o moldasse,
o verso rastejava em pauta estéril
qual acorde amordaçado no silêncio
em constante gestação interrompida.
Mas, um dia, trouxeste em tuas mãos
o código da rosa, a partitura da fonte
e me entregaste a chama tênue da magia
e me ensinaste o itinerário do poema.
Acordaste os acordes dos fonemas,
ordenaste a palavra na insônia
e a música vazou em verbo e tinta
porque eu aprendi, em teu olhar,
a tradução secreta das estrelas.
Porque me fiz teu aprendiz
pra decifrar a poesia.