Pagamento
Voltava para casa, naquele dia
Tudo normal como sempre corria
Porém, passou um frio na espinha
Naquela tarde em que chovia
Um tanto quanto sombria
A temperatura estava amena
Mas era de dentro
Que o frio nascia
Era chegado o momento
De pagar o que devia
O rosto opaco e gélido
Não demonstrava a agonia
Em um sentimento de autorrepulsa
Que a alma remoía
De chorar tinha vontade
Mas lágrima, sem força, não surgia
De quem tanto, na vida, julgou
Agora o destino exigia
Que digerisse o próprio orgulho
Que nas entranhas se retorcia
O fundo do poço está perto
Lembra a mente doentia
Agora, sem pingo de moral
O ditador maioral somente via
A dignidade que desfalecia
Projeto para a vida toda
Naquele momento se esvaia
Pagarás o que deves
Achaste que este momento não chegaria?
Que sirva de lição para a vida
O que acontece neste dia
Engoliu o sangue amargo
Que da própria língua escorria
Teve de mordê-la e sentir o gosto
Que antes não percebia
Dilaceravam a alma
As palavras que ouvia
Não teve jeito
Pagou o que devia
Tem sorte em ser poeta
Te agarras à caneta
Pois somente te restou a poesia
Ademais, apenas cinzas
Que se irão na próxima ventania