Pagamento

Voltava para casa, naquele dia

Tudo normal como sempre corria

Porém, passou um frio na espinha

Naquela tarde em que chovia

Um tanto quanto sombria

A temperatura estava amena

Mas era de dentro

Que o frio nascia

Era chegado o momento

De pagar o que devia

O rosto opaco e gélido

Não demonstrava a agonia

Em um sentimento de autorrepulsa

Que a alma remoía

De chorar tinha vontade

Mas lágrima, sem força, não surgia

De quem tanto, na vida, julgou

Agora o destino exigia

Que digerisse o próprio orgulho

Que nas entranhas se retorcia

O fundo do poço está perto

Lembra a mente doentia

Agora, sem pingo de moral

O ditador maioral somente via

A dignidade que desfalecia

Projeto para a vida toda

Naquele momento se esvaia

Pagarás o que deves

Achaste que este momento não chegaria?

Que sirva de lição para a vida

O que acontece neste dia

Engoliu o sangue amargo

Que da própria língua escorria

Teve de mordê-la e sentir o gosto

Que antes não percebia

Dilaceravam a alma

As palavras que ouvia

Não teve jeito

Pagou o que devia

Tem sorte em ser poeta

Te agarras à caneta

Pois somente te restou a poesia

Ademais, apenas cinzas

Que se irão na próxima ventania

Alex Dahlke
Enviado por Alex Dahlke em 30/04/2011
Reeditado em 01/05/2011
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