Uma Noite Sombria
Revivi; todo o meu ser
Sangrando num turbilhão
De cores e gestos
Levantou-se na estrada.
Tudo aquilo que havia
Pintado apenas com frágeis
Traços de uma arte alegre e radiante
Revirou dentro de mim ,
Trazendo-me consigo
A dor da consciência da ilusão.
Os céus são eternos
Mas as lágrimas do meu peito
São resquícios de um existir
Que não condiz com o eterno;
São lamentos de ocasiões
Em que o peito queima sem razão;
Ou, ao contrário do sentimento,
Que deveria ser de paz,
Transborda em revoada
Como pássaros em fuga...
Ài de mim!..
As cores do meu jardim
Se ressentem com isso;
As rosas que tanto brilharam
Com o orvalho da noite
Em que Áurea esteve aqui
Já não me mostram mais suas formas;
A briza já não é mais serena
E seu bailar já não encanta mais meus olhos...
Ài de mim!..
Se o meu castelo ruir,
Que caminhos seguirei?
Que destino aceitará
Uma alma que em nada lhe acrescente?
Ora é apenas febre;
Uma febre que sem que eu visse
Adentrou em minha porta
Sem as praxes das boas maneiras:
Um sonho invasor!
Uma febre que não há remédio
Nem solução alguma
Que não seja sua presença
Para que abrande!..
É assim, confessa o meu espírito,
E crê que pelo menos as cores
Das flores que cultivo
Voltem a brilhar pela manhã,
Que esta noite não deixou
Nem que ouvisse os insetos noturnos
Em sua luta com os predadores,
Toda a noite!.. Toda noite!..