Uma Noite Sombria

Revivi; todo o meu ser

Sangrando num turbilhão

De cores e gestos

Levantou-se na estrada.

Tudo aquilo que havia

Pintado apenas com frágeis

Traços de uma arte alegre e radiante

Revirou dentro de mim ,

Trazendo-me consigo

A dor da consciência da ilusão.

Os céus são eternos

Mas as lágrimas do meu peito

São resquícios de um existir

Que não condiz com o eterno;

São lamentos de ocasiões

Em que o peito queima sem razão;

Ou, ao contrário do sentimento,

Que deveria ser de paz,

Transborda em revoada

Como pássaros em fuga...

Ài de mim!..

As cores do meu jardim

Se ressentem com isso;

As rosas que tanto brilharam

Com o orvalho da noite

Em que Áurea esteve aqui

Já não me mostram mais suas formas;

A briza já não é mais serena

E seu bailar já não encanta mais meus olhos...

Ài de mim!..

Se o meu castelo ruir,

Que caminhos seguirei?

Que destino aceitará

Uma alma que em nada lhe acrescente?

Ora é apenas febre;

Uma febre que sem que eu visse

Adentrou em minha porta

Sem as praxes das boas maneiras:

Um sonho invasor!

Uma febre que não há remédio

Nem solução alguma

Que não seja sua presença

Para que abrande!..

É assim, confessa o meu espírito,

E crê que pelo menos as cores

Das flores que cultivo

Voltem a brilhar pela manhã,

Que esta noite não deixou

Nem que ouvisse os insetos noturnos

Em sua luta com os predadores,

Toda a noite!.. Toda noite!..

Geraldo Magella Martins
Enviado por Geraldo Magella Martins em 30/04/2011
Código do texto: T2940173
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.