ESTÂNCIAS DO CORAÇÃO
Sempre morei de lindeiro
Nas estâncias do amor,
Invadi, fui justiceiro,
Fui expulso e expulsor.
Construí taipas e valas
Mas permiti as cancelas,
Eram as minhas escalas
Às fugas e sentinelas.
Aramei campos abertos
Temendo invasões capazes,
Prendi amores incertos
E soltei outros fugazes.
Na estância do bem querer
Fui terno e desdenhador,
Amei por eu merecer
Fui amado e amador.
Pelas divisas andei
Defendendo propriedades,
Porém, em tantas entrei
Invadindo as liberdades.
Tranquei e abri estradas
Fui vereda e demora,
Habitei tristes moradas
Onde a solidão mora.
No campo do coração
Plantei versos de amor,
Fui capataz, fui patrão,
Domado e domador.
Tantas vezes me perdia
Quando encruzilhadas vinham,
O caminho me dizia
Mas os medos me detinham.
Acerquei-me e cerquei
Quem me dava amor inteiro,
Mas jamais me libertei
Desse meu amar lindeiro.