Sem Explicação…

As cicatrizes

Feridas nunca realmente fechadas

Que tentas sarar

No meio da escuridão

Pelo medo que outras pessoas as vejam

As tentem pisar

Nunca deixando

Que o tempo

Possa normalizar

Memórias passadas

Que passam por serem o teu presente

Porque nunca tiveste tempo

Ou alma

Para as sepultar

Num tempo que devia ser pretérito

E jamais um futuro

Que estejas condenada a ver

E a reviver

Vezes sem conta

Numa demente repetição

E não consegues achar lenitivo para tal

Não entendes

Achar uma lógica explicação…

Sim

Estás acordada

Há uma eternidade

Penando uma directa sem fim

Onde os dias nunca são diferentes das noites

Porque não consegues dormir

As noites são um prolongamento dos dias

Através dos quais

Procuras o que te falta

Uma Estrada por onde prosseguir…

E acendes mais um cigarro imaginário

Porque deixaste de fumar

Embora a vontade permaneça

Intacta

De nesse fumo fruto do vício

Tu também te evanesceres

Porque o amor que querias mais do que tudo

Quer tudo

Menos a possibilidade de te rever…

E bebes mais um copo

De água

Simulando uma bebida branca

De efeitos perfeitamente destrutivos

Deixaste de beber

Para enfrentares a realidade de forma lúcida

Mas no fim desse copo

Em plena dor da sobriedade

Encontras o teu maior monstro

Aquele que te diz numa voz tenebrosa

Gutural

Que Ninguém quer estar contigo…

E rezas

Embora tenhas perdido a fé

Em qualquer entidade

E rezas

Para que as noites-dias-noites-dias

Não te devorem

No limite da insónia

Te deixem onde estás

Não te levem nos seus braços

Não te dilacerem a alma

Não te arrebatem

O que resta da tua interioridade…

E choras

Violando o juramento

De nunca mais voltares a chorar

Depois daquele último amor

Te ter deixado

Ter deixado um enorme vazio

E nada

Mesmo nada

No seu lugar…

E acreditas

Não porque sejas crente

Mas apenas

Porque não tens mais nada

Nada te resta

A não ser a força

De acreditares

Que o mundo

E as pessoas

São bem estranhas

Mas tens que acreditar nelas

Porque se desaparecessem

Não existia mais ninguém

Para ocupar

O seu Lugar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 26/04/2011
Código do texto: T2932150
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