GRITO DE SILÊNCIO
Se seus olhos
Não me gritassem
Esse brado silencioso
A agredir-me os ouvidos
Com palavras de chumbo.
Se em sua boca
A palavra não fosse muda,
A verdade fluiria
Límpida e cristalina
De dentro da garganta
Como fonte refrescante
A jorrar sobre a terra.
Mas esse silêncio
É estrondo de tempestade
A cortar o ar
Em faíscas de rancor
Que não nascem do corpo
E sim do espírito.
Nascem dentro de você
Para escorrerem do olhar
Como águas de enchente
Encorpando fios de água
A lamberem famintos
Os barrancos da alma.
E depois que a fúria acaba
E o rancor escorre
Para oceanos profundos
corações magoados
Aos poucos vão se afogando.