PARABÉNS

À Sandra R. M

PARABÉNS

Ontem passou mais um ano

Do ano em que nasceste

E aqui estou eu para me recordar

Embora de mim

Não te recordes

Ou não queiras recordar

Parabéns

Do meu palácio de Gelo

Desci até aos teus Jardins Suspensos

Onde um dia

Há mil anos

Me convidas-te a entrar

Mas eu fiquei à porta

À espera

Que essas portas

Pudesses destrancar

Amei-te

Breve

Mas intensamente

Amaste-me?

Essa é uma dúvida

Que nunca me tiras-te

E assim

Ignorante dos sentidos

Relembro

Uma altura

Em que te queria comigo

Foram dias de sonho

Dias de tempestade

Em que entupimos uma comunicação

Com demasiado poucas palavras

A que não conseguimos dar vazão

Até que houve, como sempre

Há um fim

E as culpas

Penso que não devem cair

Só em mim

Pois houve verdade

Mas demasiada mentira

Demasiados jogos de bastidores

Em que

Eu fui o pior actor

Por não saber

Como lidar

Com a tua imensidão

Bela e majestosa

Lado negro portentoso

Acabei

Por te perder

No meio de uma multidão

E o pior…

O pior

É que não houve uma despedida

Sequer um adeus

Houve apenas um silêncio

Que pensava de esperança

No fim do qual

Nada aconteceu

E a tua presença

Para sempre

Se desvaneceu

E assim

Perdi o teu rasto

Mas não a memória

Pois afinal

Continuei a amar-te

Durante mais alguns pozinhos de tempo eterno

A doces palavras te dedicar

Não sabendo bem como

Tas enviar

Parte de mim

Ainda se recrimina

Outra parte

Ainda te estima

E outra

Chora a tua perda

Embora esta parte

Seja bem pequenina

E outra te tenha de facto esquecido

Só me lembrando agora

Pois foi há setecentos e tal auroras

A última vez que te vi

Tu foste para algures

E eu

Eu fiquei aqui

Amei-te apenas alguns meses

Que pareceram séculos

E sabia

Que eras a minha princesa negra

Que eras a tal

Embora no fim de tudo

Agora

Nada seja fundamental

O meu coração

E alma

Andam por outros lados

Embora tenha esquecido o teu rosto

Nunca esqueci o teu brilhar

De olhos

Algo

Que não sei

Se algum dia

Me irei deixar de lembrar

Por isso

Hoje

Lanço esta carta numa garrafa virtual

Na esperança que a leias

E que saibas

Que te continuo a sentir especial

Sei que nunca mais te irei ver

Nem sequer

Ignominia das ignominias

Em sonhos

Porque o tempo apaga tudo

Ou quase

E ele apagou

Lenta mas inexoravelmente

O muito

Que um dia fomos

E este poema

É pois de amor

Dum amor que nunca se calhar existiu

Mas que de tristes cinzas negras

O meu reino cobriu

Só espero que estejas bem

Que sejas feliz

Que tenhas um futuro radioso

Não sei se o mereces

Mas hoje

Apeteceu-me assim

Ser carinhoso

E nessa estrada para o infinito

Só espero

Que um dia

Te lembres de mim

Pelo pouco

Mas intenso belo que vivemos

E do qual

Nunca

Mais me esqueci

Mando-te pois um doce beijo

Pedindo aos meus Deuses ateus

Que estejas bem

E também

Mais uma palavra

Para a despedida que nunca tivemos:

Parabéns…!