Tuas andanças no meu caminho
Não tinha cor e nem tamanho
Não tinha forma e nem sombra
Não tinha voz e nem silêncio
Não existia e nem se cogitava
Não havia o tal ser e nem havia o sonho
Não havia palavras e nem leitor
Não havia afeto e nem sentimento
Não havia nem o alguém a se descrever
E de não ter e nem haver
Veio esse ser
Veio dele o que não tinha
Veio também o que não havia
Veio cor e tamanho
Veio forma e sombra
Veio voz e sussurros
Veio ele e seus pensamentos
Inundou o raciocínio
Tomou de conta do espaço
Fez dele moradia
E aos poucos veio a visitar
Fez dele o próprio sonho
Fez de mim palavras a ele ler
Fez de si o afeto acompanhado de carinho
Se fez assim à quem palavrear
E foi fazendo de tudo
E de tudo lhe foi feito
Tornou-se forte e grandioso
E hoje já não se contenta mais
Com o espaço que tem
Tomou de conta de meu corpo
Foi descendo pelo pescoço
Desceu um pouco mais
E nesse descer encontrou outra morada
Lugar vazio e abandonado
Com paredes em movimento
Por muito tempo não se habitava
E logo fez do coração seu abrigo
Outro dia se fez insatisfeito
Acorrentou o pobre pulsante
Se prendeu e se escondeu
Aos poucos seu movimento foi parando
Devagar e devagar se calando...
Perdeu força e um pouco de vida
Poucas forças lhe restaram
E desde então soltou as correntes
A bandonou a nova casa
E para o mais distante se afastou.