Outrora
Outrora eu via lagos cristalinos
em teus olhos e neles peixes
coloridos mergulhavam docemente.
Era no tempo das calmarias.
Não havia tempestades.
Nem tormentas.
Ainda recordo o som da música
tocada no velho saxofone
e a festa que fazia
o coração bailar
entre verso e prosa.
Era no tempo das calmarias.
Hoje, absorta entre fragmentos
de lembranças, pairo feito
uma folha seca tocada
pelo vento.
É outono.
Tua fotografia repousa entre
as páginas do livro
como o segundo que
as horas não levou.
O grito de dor que afogo
no peito reverbera
no canto das cigarras
que em coro anunciam
mais que uma
simples canção.
É você que ainda dói
em mim, diferente
dos versos que eu
compunha outrora,
antes de saber que
o amor chegara
ao fim.
Rita Venâncio.