Outrora

Outrora eu via lagos cristalinos

em teus olhos e neles peixes

coloridos mergulhavam docemente.

Era no tempo das calmarias.

Não havia tempestades.

Nem tormentas.

Ainda recordo o som da música

tocada no velho saxofone

e a festa que fazia

o coração bailar

entre verso e prosa.

Era no tempo das calmarias.

Hoje, absorta entre fragmentos

de lembranças, pairo feito

uma folha seca tocada

pelo vento.

É outono.

Tua fotografia repousa entre

as páginas do livro

como o segundo que

as horas não levou.

O grito de dor que afogo

no peito reverbera

no canto das cigarras

que em coro anunciam

mais que uma

simples canção.

É você que ainda dói

em mim, diferente

dos versos que eu

compunha outrora,

antes de saber que

o amor chegara

ao fim.

Rita Venâncio.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 19/04/2011
Código do texto: T2919008
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