Ele estava Apaixonado por uma Imagem…

Ouvindo a banda sonora da vida

Que lhe chegava

Pelo seu circuito privado

De som

Não querendo ouvir a voz dela

Com o receio secreto

De se desiludir

Por o encanto acabar

Por se sentir enganado…

E assim

Todos os dias do mundo

Num transporte comum

Partilhava a privacidade

De uma multidão

Com ela

Enquanto ela olhava sem olhar

O mundo

Que parecia temer

No seu olhar frágil

O qual partilhava com ele

Mas tal como ele

Receava esse universo

Com um enorme terror

Que essas vivências

A pudessem magoar…

E passaram-se meses

Anos

Gerações inteiras

Em que ele se apaixonava

A todos os segundos

Por aquele rosto

Aquele corpo sem som

A não ser o seu

Com todo o amor do mundo

Sem saber o que fazer

A não ser imitá-la

Na arte de observar

Sem que se atrevesse a mais do que isso

Pelo supremo ridículo

Que seria com ela falar

E o tal encanto de imagem tridimensional

De relevo

Táctil

Se quebrar…

E no entanto

Exagero de quem escreve

De quem quer ser imortal

Tal episódio

Durou apenas uma viagem

Bem curta

Onde tudo se passou

Na sua vasta imaginação

Gostou dela

Porque se deixou enganar pelo coração

Não se aproximou

Porque não cedeu à imaginação

Não fez nada

A não ser guardar aquele rosto

Para uma possível impressão artística

Um desenho

Ou um bocado de escrita

Porque apesar de desejar amar

Jamais se voltaria

A render a tal tipo de sentires

Porque uma utopia

Uma dose de platónico na existência

Não faz mal

Até faz bem

Dá-nos uma certa alegria

Sem o efeito secundário de uma ferida…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 18/04/2011
Código do texto: T2916721
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