Ele estava Apaixonado por uma Imagem…
Ouvindo a banda sonora da vida
Que lhe chegava
Pelo seu circuito privado
De som
Não querendo ouvir a voz dela
Com o receio secreto
De se desiludir
Por o encanto acabar
Por se sentir enganado…
E assim
Todos os dias do mundo
Num transporte comum
Partilhava a privacidade
De uma multidão
Com ela
Enquanto ela olhava sem olhar
O mundo
Que parecia temer
No seu olhar frágil
O qual partilhava com ele
Mas tal como ele
Receava esse universo
Com um enorme terror
Que essas vivências
A pudessem magoar…
E passaram-se meses
Anos
Gerações inteiras
Em que ele se apaixonava
A todos os segundos
Por aquele rosto
Aquele corpo sem som
A não ser o seu
Com todo o amor do mundo
Sem saber o que fazer
A não ser imitá-la
Na arte de observar
Sem que se atrevesse a mais do que isso
Pelo supremo ridículo
Que seria com ela falar
E o tal encanto de imagem tridimensional
De relevo
Táctil
Se quebrar…
E no entanto
Exagero de quem escreve
De quem quer ser imortal
Tal episódio
Durou apenas uma viagem
Bem curta
Onde tudo se passou
Na sua vasta imaginação
Gostou dela
Porque se deixou enganar pelo coração
Não se aproximou
Porque não cedeu à imaginação
Não fez nada
A não ser guardar aquele rosto
Para uma possível impressão artística
Um desenho
Ou um bocado de escrita
Porque apesar de desejar amar
Jamais se voltaria
A render a tal tipo de sentires
Porque uma utopia
Uma dose de platónico na existência
Não faz mal
Até faz bem
Dá-nos uma certa alegria
Sem o efeito secundário de uma ferida…