A CLAREIRA CONVIDA AO FOGO
José António Gonçalvees
A clareira convida ao fogo
a água ao amor no mexer da terra
e do levantar das plantas no verde
dos tapassóis quando faz sol
É uma mão aberta por sobre a colina
alcançando a voz que vem no encalce
das andorinhas sem que se saiba ao certo
se isso quer dizer: é Primavera e sorrio
No vácuo dos braços palpita um hesitante
momento de uma memória que permanece
com o olor a tapetes a casa silenciosa a vela
acesa na imensidão do escuro soprando a alma
E recolho-me a um canto na prateleira lenta
dos expectantes dos esperançosos no grito
que há-de acordar a tarde e preparar a viagem
para outras jornadas iguais às que estão adormecidas
nos beirais de antigos lares de cidades velhas
e de barcos varados sem missão a cumprir no mar
Logo esqueço tudo e afasto o brilho
dos olhos o fulgor das manhãs de ontem
o vaivém habituado às imensas regras do tempo
ao passar dos dias dos meses dos anos
e retorno à clareira que convida ao fogo
e à água onde o amor germina
no mexer da terra
no cheiro dos girassóis
e deixo-me estar
José António Gonçalves
(inédito.13.06.04)
JAG
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