AO TEU LADO
Quando chegamos diante do pelotão de fuzilamento,
meus olhos te procuraram.
E viram uma ternura imensa, uma coisa assim absoluta,
que nunca havia visto antes.
E o amor que eu sentia, miraculosamente,
cresceu um pouco mais.
Procurei a tua mão, mas os soldados,
com golpes de baionetas, nos separaram.
Fiquei à tua direita e, em meio a orações, eu disse
a Deus que te colocasse
no mais belo paraíso.
Vendaram os teus olhos,
vendaram os meus.
De olhos fechados, procurei sentir,
apesar do vento forte que soprava naquela tarde de maio,
o teu cheiro.
Senti apenas o cheiro da pólvora queimada,
do fuzilamento de outros casais,
misturado ao sangue derramado por eles,
no chão, diante do paredão.
Um dos soldados perguntou quem seria o primeiro
de nós dois a sentir o fogo da morte.
Gritei: que seja eu!
Não me passava pela cabeça a ideia de te saber morto,
ao meu lado, por alguns segundos que fosse.
Escutei os teus protestos.
Tua honra exigia me preceder no além.
Então a soldadesca clamou
que fôssemos mortos juntos,
com as mesmas balas,
ao mesmo instante.
Amarraram-nos.
Senti o teu corpo quente colado ao meu.
Teu cheiro.
Tua voz começou a recitar uma oração
e te acompanhei, quase cantando.
De repente, me senti alegre,
um pássaro de luz pousando em meu ombro direito.
Ao teu lado, suporto a maior dor possível.
Uma bala nos trespassou: rompeu o meu peito
e se encaixou em tua costela.
Não gritei pela dor, mas por te saber ferido.
Mas tua voz não cedeu: outro tiro e mais outro,
e outro, é que a fizeram ceder.
Tombamos os dois, como se um fôssemos.
E a noite cobriu a tarde,
parecia chover.
Mas estávamos juntos.