Abismo
Guarda a voz na boca que tanto ousou falar,
retém as rimas nas mãos atadas sem nós,
caminha surdo na tentativa de entender o mundo,
com a força do espírito que jamais deixará de sonhar.
Cai por terra o sonho do poeta que tanta rima tentou,
a um passo da vida estão os sonhos nos versos que arriscou,
olhou passivo no gênero ativo de todo seu clamor
para os céus sem estrelas que sobre sua cabeça pairou.
Vai e vem nas cordas bambas desse abismo sem fim,
picadeiro abandonado onde à vida é só lembrança e um talvez,
ensaia portanto seu último ato na solidão que há tanto o abraçou
sem platéia, pobre palhaço no aplauso mudo que norteia seu sim.
Olhar perdido no vazio do tempo onde a hora já parou,
uma rua deserta demarcando o caminho que nunca pensou seguir,
a cadeira de balanço rangendo sozinha no vai e vem que cantou,
na varanda a vida, corroída na velha pintura que restou...
29/10/2006