A Virgem Morta
Enfim, vejo-te na palidez cadavérica,
A tua face empalidecida e ressequida...
Em horror! Esta tua fronte histérica,
Perdeu as cores que tivera em vida!
E nesta mortalha que cobre o corpo,
Cobre-te a face esse negro véu,
Quisera eu! Junto de ti, estar morto,
Repousando minha alma no céu!
Tenha dó! Que na nódoa de saudade,
Brotei em tristeza uma dor pungente,
Morrestes enfim, na flor da mocidade,
Como um anjo celeste e inocente!
Perdoe-me se no viver fui então canalha,
Se na ventura gastei meu peito ressequido,
Agora presa aos arranjos da mortalha,
Sonhei contigo junto do túmulo esquecido!
Quanta dor! Unge-me sob os círios e luzes,
Que iluminam seu corpete embalsamado,
Levar-te-ei junto de mim por dentre cruzes,
Pois em vida fui o teu poeta enamorado!
Quantas lágrimas, pela minha face rolam,
Entre os espasmos de um adeus convulsivo,
No firmamento os querubins enfim choram,
A dor de despedir-se do amor ainda vivo!