O Operário e a Bailarina.

Ele ergue em torno de si

Uma sólida fábrica

de armações de aço

ferros e maquinarias

Enquanto isso

Ela flutua no espaço

e move com seus passos

o tempo derretido

Ele sobe em alturas

Que parecem incríveis

E cerca-se de arames

Sempre tão farpados

E enquanto isso

Ela dança vestígios

E sobe em telhados

Pra viver de estrelas

Ele veste capas de armaduras

Ouve sinos, canta ordens

Sai às tantas sempre em ponto

Ele é o operário

A vida é certeza

Ela escreve versos

Inventa cantigas

Dizem que é louca

Sua crença e sina

Ela é a bailarina

Mas, quando estão juntos:

Ela rega plantas

Ele veste rios

Ela faz café

Ele conta histórias

Ele repousa em seu ventre,

Ela costura bainhas

Ele cose o amanhã

Ela desenferruja as trancas

Ele ordenha o futuro

Ela adormece

Ele adormece

Não há nada que os separe

Ele é todo corpo

Ela é o esquadro

Eles se encontram,

se perdem inexatos

Libertam seus fardos

Fazem-se os sentidos

Ela é a operária

Ele o bailarino

E tudo, tudo que era sólido

se desmancha no ar...

Patricia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 12/04/2011
Código do texto: T2903950
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.