VOCÊ

Guardo comigo a lembrança

De seus olhos de lua

A iluminar o oceano

De minha ilusão...

Tão encarecidamente te amei,

Tão seu fui... sem te ter.

Tão ilusão fui...

Tão sonho...

Que agora, aqui sozinho,

Me disponho em simples

Fagulhos, pedaços de sonhos...

Tão estranhos...

Tão medonhos... .

Encarecidos, suplicantes

De te ter...

Querer-te foi a prisão.

Amar-te a sentença,

Que aqui ainda agora sofro

E pago por amar-te

Tão incomensuravelmente

Quanto a própria razão

De existir...

Não posso, nem quero,

Libertar-me dos elos

Que me prendem a essa prisão

Que você é...

É fato que nessa noite fria,

Tão lívida e vazia

A tua falta me faz

Sentir o vento, e sofro...

Sofro, do âmago de minha alma

Sofro por desejar

Por querer,

Por sonhar,

Sofro tão unicamente

Por no vazio de minha

Esperança te buscar debalde,

Sem te tocar, sem te sentir. ..

Sofro por condenar-me

O destino, por taxar-me

A humanidade de

Não merecer-te.

Me dizer pequeno ...

Se tão grande é o meu amor,

Com assaz cólera dizer-me

Indigno de amar-te...

Vislumbro ainda a lua

Que ressuscita-me

Teus olhos a me dardar

Com intensa luz...

Quão ofusco é o meu olhar

Diante da magnificência

Do teu semblante altivo

E de volúpia copiosa.

Plebeu, necessitado

De tuas mãos despóticas,

De tua pele alva,

De teus lábios vívidos...

De teu busto imperioso

E quente como a própria vida

A palpitar em mim...

Não me vês ou simplesmente

Me ignora, Mas sinto teu olhar...

Mesmo longe o sinto,

O busco e náufrago perambulo

No oceano de teus pensamentos,

Percebo-me indigno

De aí estar, mas os indignos

Também amam, por isso

A desonra de macular tão sacro

Lugar me é perdoada,

Pois o amor que vos tenho

É maior que o crime

De minha impetulância...

A noite está a se findar

E a lua que durante a negra noite

Zelou em clarear os devaneios

De minha alma,

Agora se prepara para dormir...

E ainda a vejo ir

Como tu quase sempre vai

E nada posso fazer

Para reter-te...

Insuficiente, incapaz,

Desprovido de forças tais

Que a possa impedir

Apenas a vejo ir.

Somente o pranto lírico

É o que me de companhia resta...

Assim também se vai a lua rindo-se

De minha insuficiência

Por almeja ainda lá

No alto iluminando a noite

Do meu espírito confuso...

Ri-se e vai...

Trevas tudo que resta

Sonhos, agora já pesadelos,

Na penumbra é o que me sobra,

O pranto me sucumbe

E banha minha dor...

Lentamente adormeço

Na certeza de te amar eternamente,

O que me traz o infeliz destino

De sofrer um dia

Que jamais se finda...

Gilmar Faustino
Enviado por Gilmar Faustino em 12/04/2011
Reeditado em 12/04/2011
Código do texto: T2903495
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