Flor de Lótus.
Escrevo hoje para ti este falso poema de amor, egípcio:
"A tua casa é o meu coração e o teu perfume enche de
nostalgia as minhas noites. Pelos meus braços vens ca-
minhando nua, com a doçura da gazela e a brevidade
suicida das flores do hibisco. O meu coração dá abrigo
a um grande amor, como a palmeira protege as tâma-
ras dos ventos do deserto ou a romã se transforma em
cofre para guardar os seus rubis. Não há armadilhas
montadas no percurso que te leva à minha cama, e na-
da será perturbado pelo júbilo de beijar todas as síla-
bas que a tua boca pronuncia.
És em mim. Estás em mim. Há-de o meu coração ficar
em ruínas e, assim mesmo, defenderá o teu corpo, a
tua vontade, e o teu sorriso que tem a envergonhada
flor do lótus. Há-de o meu coração calar-se, mas esse
silêncio não impedirá a promessa de uma eterna noite
de amor".