Nesta noite, percebi...
Foi com tristeza e desacomodação
Que percebi, no silêncio desta noite,
Que me acostumei a te esperar em vão...
E até não estranhei que não viesses...
E senti um certo conforto nesta constatação:
É a tua despedida, pois assim quiseste.
Vês?... Não estou chorando ou lamentado.
Talvez quisesses me mostrar isto há tanto tempo...
E eu não percebi! Queria a ilusão...
Então, muito de repente, abriram-se meus olhos,
E onde havia rosas, só percebi abrolhos.
Que tonta vivi! Foi imaginação!...
Talvez, na fragilidade de meu corpo,
Tenha se fortalecido a minha razão
E enxerguei o meu caminho torto...
Mas sempre é tempo de se repensar
E um amor em vão assim, sufocar,
Pois a vida é mais que apenas solidão...
Quedei-me a pensar no que me resta
Da ampulheta da vida, que escorre tão depressa,
E não quis mais me enganar!
E já acostumada ao que não fazes
(Mesmo tendo dito que irias fazer)
Não te esperei com perfume de lilazes...
Não estranhei a solidão da noite;
E nenhum gemido fez-se ouvir
Neste silêncio sepulcral de açoite..
Se é melhor pra ti assim a despedida,
Que seja ela como queres! Foi entendida!
E nada mais precisas explicar!
Não digas nada! Tudo é silêncio
E compreensão... O entendimento dita,
O que fazer com esta solidão...
Vou procurar atalhos e outros caminhos
E para alguém hei de guardar carinhos
Que não quiseste, em humilhação...
“Já não te quero, é certo...” *( “Mas talvez te queira!...)*
Mas estas cinzas, são cinzas de lareira,
Que não vêm aquecer meu coração...
Fica em silêncio. Nenhuma explicação...
- Já me acostumei a te esperar em vão! -
E quando isto acontece, não mais há solução!...
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Nota: * Versos de Pablo Neruda.