CRU

Uma parte de você

não o todo, imenso, desproporcional

ilimitado.

Uma parte como uma tela

com margens onde esbarram meus pensamentos

minha imaginação desenfreada.

Uma porção, contida, pobre

sem excessos que nos dignificam a alma

sem demais que nos façam abandoná-lo.

Quero a sobra disso que vejo agora

mais imperfeições, risadas sem hora

o mau-humor desmotivado.

Quero o além, o aquém

o antes e o depois do que nos mostra.

Mostre o pecado original

a falha na evolução

não esconda o sangue impuro

mestiço, fonte de diversas origens.

Revele a pele, lisa, morena

prova do todo, do excesso

que quero ver em si.

Não reduza a tão pouco

que esse pouco não o mostra

iluminado, belo, perfeito.

Dos defeitos é feita a perfeição.

Não nos prive da humanidade

carnívora, selvagem, destrutível, abominável.

Quero ver o lado sombrio do espírito

e não me surpreender quando ele aparecer.

Uma parte, um terço

desproporcional ao todo que há em você.

Não há quem consiga calcular

essa parte multiplicada pelo infinito.

Complete as lacunas da minha visão

Deixe eu sentir o cheiro da vazão

esse rio que corre descontrolado.

Não quero mais o tédio das suas margens

dessa sua moldura antiga, empoeirada.

Repasse as feridas para que possamos ver

e constatar que também sofre

também é fraco e covarde

de sangue quente, fervente, humano.

Junte suas partes

essa que eu vejo com as outras que esconde

e assim será completo

um perfeito mortal aos meus olhos.

Cyelle Carmem
Enviado por Cyelle Carmem em 07/04/2011
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