Notíca da morte do Estrangeiro

Foi visto pela última vez caminhando pensativo pela estrada, era uma quarta-feira em Fevereiro. O Estrangeiro desapareceu da mesma maneira que surgiu, misteriosamente. Nada se sabia a seu respeito, não se conhecia o seu passado, a sua origem ou idade. Parecia até que ele sempre estivera ali.

De hábitos simples e discretos, passava a maior parte do tempo lendo não se sabe o que, escrevendo coisas que a ninguém mostrava ou apenas caminhando solitário. Carregava talvez algum terrível segredo? Rumores davam conta que era talvez um fugitivo das galés e que poderia ter sido enviado de volta, mas nada de concreto se descobriu.

A hipótese da sua morte surgiu quando alguém comentou que pensou visto o momento exato da sua morte, o instante em que a mulher amada pelo Estrangeiro lhe arrancara impiedosamente o coração do peito e o levara como um troféu.

Mas os seus restos onde estariam? Não restariam despojos que justificassem uma simples lápide? Talvez tivesse fugido, retirando-se silenciosamente como fazem os guerreiros vencidos de volta a pátria. Era um enigma. O que se sabe é que o seu quarto permanece intacto e a única mudança visual é a poeira tingindo a mesa tornando-a pálida. E todas as tardes o vento arremessa pela janela dezenas de folhas de papel e as faz voar como pássaros amarelos.

Do estrangeiro nada se sabe exceto que partiu,foi visto pela última vez caminhando pela estrada numa quarta-feira de Fevereiro.

J.Valjan