O OLHAR DA MADRUGADA
Nessa minha vida de boêmio
Sem querer fui me perder
Entre a espuma da cerveja
E as orgias da madrugada
Prometidas no olhar
De cada uma das mulheres
Que um dia eu amei
E talvez tenham me amado.
Olhos azuis como o céu
Sem nuvens no horizonte,
Olhos quentes como um dia
De verão incandescente.
Olhos que se escondem
Retirando-se para rezar
Quando a tardezinha
Lá no alto da serra
A luz do sol se esvai
Na agonia do por do sol.
Olhos verdes
Como a grama do jardim,
Olhos que se banham
Na luz do luar,
Olhos de primavera
Com rosas florescendo
Perfumes e espinhos
Para machucar a dor
De quem chora o riso
Da mulher amada.
Olhos castanhos
Como as folhas de outono
Caídas na calçada
Da rua casa
Da nossa casa,
Sem ventos mornos,
Sem promessas de chuvas
Que nos levem na enxurrada.
Olhos negros!
Negros como a noite
E gelados como a madrugada!
Olhos perdidos em desânimo
No descaminho da vida
Que a vida escolheu
Pra caminharmos descalços.
Olhos de encruzilhadas
Sem destino certo,
Sem tabuletas
De endereço,
Sem lugar para chegar.
Olhos perdidos nas cores
De todos os olhares
Nos quais me achei
Antes de me perder
Pra nunca mais me achar.