Amor...
O amor surpreendeu-me
A poesia surgiu com o teu perfume
A noite voltou-se para te abraçar
Fiquei com a tua recordação
Nada mais que uma seca Rosa murcha
Entre os meus dedos... feridos.
O amor surpreendeu-me
Na vida que não teve semelhante
Prescrita no bem
Destinado a compreensão
Que me impedem
Aos sentimentos
Sobre o teu corpo de mim imóvel,
Porque sofro
E sofro, mas nada posso.
Sofro,
Porque eu violaria
Os teus traços de lágrimas
Deixados ao adormeceres.
Violar-te-ia sem piedade
Na minha brutal compaixão...
- Pelo amor, não me deixes sozinho.
Renega os momentos
Do homem-perfume,
Só eu permaneço inalterável
E de nada alguém pode fugir
Exíguo no tempo assim deixado,
Passado, passado... nos meus olhos,
Nos teus olhos.
Sufoco jovem camponesa
No contacto casto das tuas vestes
Cheirando a resina seca.
És fresca
Cor de âmbar,
Sabor de mulher.
Sufoco doce camponesa
Sobre os lassos diluviosos
E tristes lábios
De campina-mulher-morena.
No teu corpo senti o medo,
Na angustia estéril
Monstruosa e sem vida,
Para me afogar em ti lentamente
No sono escuro
Das entranhas pavorosas
De vertiginosas montanhas,
Languidez da lua
Noites claras,
Noites que amam o silencio
Amor puríssimo no espaço
Sobre um corpo soberbo...
Teias de aranha,
Virgem-Maria.
Mistérios menstruados
Visão lastimosa,
Das Éguas parindo.
Lago de Cidálias,
Encantos de fundos viscosos,
Carne flácida
Imunda
Guerras de matar;
Tumefacções do fogo puro,
Seios de um sapo d'ouro
Raios de sol frenéticos
Entre os ecos
De montes e vales.
Templos profanados
Inocência de amor,
Amor, que é bom de amar
Amor,
Prostitutas sobre uma enorme cidade;
Armadura de cavaleiro,
Mulher de Adão
Grande grito obsceno!
Tu pássaro de voo raso,
Amor acima do sexo
Alma desolada,
Poema das minhas lágrimas
Prece sangrenta,
Fêmea da graça
Meu belo Cisne;
Olhar que cresce de esperança
Êxtase perpetuado
Brotos solcavados,
Fruto da terra,
Do pensamento
Senhora do vazio,
Onde irei consolado
Nas viagens encantadas da vida.
Onde irei caminhante
Coberto com a tua agonia,
Berbéria múmia egípcia.
Irei consolado
Na poesia
Sobre o meu sexo
Dos teus seios crescendo
Em visões de rios plácidos.
Ó canta-me...
Ó canta-me
Milagre dos olhos meus,
Meu amor!
Ó lua da fecundação
Amor, esmeralda do ventre em suplicia,
Desabrochados nas vascas
Das lágrimas baloiçando
Como um anjo,
Nos olhos cantantes.
Ó nudez perfeita,
Ó círio crepitante
Fonte inexistente,
Estrela Polar;
Sol do fogo-fátuo,
Mármore frio...
Cinco da manhã!
Trevas, sombras
Branco vestido.
Noite escura,
Minha carne
Teu amante.
Hirta neblina
Minha agonia...
Ventre... paz em ti
Coração da descrença,
Promessas, fome e sede,
Longos tédios;
Fricções efémeras,
Beijo da eternidade.
Amor renascença
Súplica do mar;
Mas, ó saber-te...!
Ai de mim
Em pânico
No meio da ventania
No vazio
Nas águas do abismo...
Descontrolado... sem ti,
Sem ti.
Em pânico no infinito vago
No ilimitado
Sem verdade...
Quem sou?
Meu sonho perdi-te,
Curará este mundo as minhas chagas?
Ó tu soubesses a força da loucura!
A loucura, na carne inflamada
No ser alucinado,
Na alma.
A loucura um remédio,
A vida misérrima no querer uma desgraça.
A vida tranquila e sem lamentos,
Num eco distante
Sobre um pranto gigantesco.
A vida na fúria
Socorrida, sobre os teus olhos vertigem,
Para que no meu peito,
Tão grande te veja sofrer
Na solidão;
Na solidão dos meus próprios esquecimentos.
Na solidão de mim poeta
Soberbo e arrogante,
Na sombra das tardes,
No cheiro da água sonora...
A loucura,
O ciúme,
A fausta espuma,
A festa...
O vento do mar de fora
Rasa água da branca vela,
Cássias de um soneto...
Madrigal eu te leve!
Mímica música que me agradas
E, em ciúme me desgovernas...
Porque os teus olhos escuros
São loucos e puros,
Porque nos teus lábios
És uma criança ruim,
És dos meus versos o berro
O soluço nu
A mulher vaga da rua,
Cristal em pele nua,
Branca ó pequenina lua,
Calor nos meus gemidos
Dor de pranto em ferros agrestes,
Lâmpada macia,
Campo de lírios
Boca fresca
Mulher da vida...
... Mais um dia,
Outro dia.
Fascinação das almas
Fascinação nos meus braços,
Nos meus peitos
Nos meus receios!
Mulher bela;
Meu mor pensamento,
Minha fome,
Meu canto,
Meu fado,
Meu lamento.
Mulher minha chama,
Vento da espuma
Lágrimas, campos de estrelas,
Tristeza dos meus ais
Soneto cântico dos cânticos... ai, ai, ai;
Que me devora,
Que me consola.
Fundo dos meus olhos
Minha vida sempre grande
E esperada.
Nela ando,
Dela fujo...
Da morte
E da vida,
Estrela do céu,
Setestrela crepuscular
Sombra deserta para me espiar
Que outrora comungava
No meu corpo solitário.
Minha vida com pressa de passar
Sem pesar e sofredora,
A quem perdi por não ganhar,
No alto da mesmíssima treva que me envolve,
Sob as tuas falas fadinhas
E sofridas,
Molhadas do mar...
Uma lua que nada me disse,
Abandonada noutro céu;
Lábios de sal
Sobre a tua sombra inclinada,
Com clamores do vento
Da matinal aurora,
Confundindo a água molhada,
Com as ondas da tua saia...
Redes de amor,
Lençol de areia...
Meu sonho!
...................................................
...................................................
...................................................
...................................................
...................................................
..................................................!
Ah sonhos,
Ah sonhos!
Beijei-te a boca
Carne em brasa
De sangue
Boca de nada:
Apaixonei-me!
Eras tão macia...
Tentei esquecer-te...
Mas, sinto-te em meu peito,
Leveza a meu jeito,
Suspiro que me levanta;
Graça que me espanta
Brancos seios de uma rosa,
Azuis, meu passado fiel.
Naufrago de delírios,
Brumas tenho-as todas
Sobre mim como plumas,
E, na gota de cada chuva
Frágilmente se quebram
Sentindo-te em mim
Reencontro que não revia...
Como não mudaste,
Como não mudaste!!!
Paulo Martins