Loucura de ti
Quando eu for nos teus olhos chorar
deserta-me como um indigente
pedinte do espaço
mais sideral e austral
para lá dos autos
e das barcas
e dos infernos de Dante
lá onde me choram melancolias
tortuosas...
Quando eu for te amar
desperta-me como um cadáver ardente
mesmo que te soe a podridão
a solidão e a neura...
Mesmo que tormentosas
vias sacras
opus dei
e coisas barbaras me acoitarem
me trucidarem
me exumarem...
deixa que o tempo do times
me persiga nos teu sonhos
cândidos olhos que perco
a vez
e de vez enquanto
por te amar
amar
amar
... nesta cegueira infernal.
Quando acordar
deseja-me
como te desejo infâmia
sobre hordas hostis de zumbis e coisa feias
noites esvoaçantes nas beiras dos cemitérios
qual um conto exótico de Bram Stoker
ou vampiresco
ou doravante
ou do espaço
ou do nada andante
uma alucinação
uma contracção
uma dor
que doí
ou um berro que berra
ou um ai de aflição
uma beira d'água
um estremunho
uma rebelião
um incêndio
um todo no fundo
um ou dois copos de vinho
uma chávena emborcada
o sabor amargo do fel
uma tisana de curar o fígado
ou a alma
ou o Deus-me-acuda
... sou o teu sangue
as tuas veias e os teus afins
Enlouqueço!!!
Paulo Martins