NÃO TEM POESIA

Não tem poesia...
Esse silêncio aterrador
A dor, um arrepio, o que passa
Como suspeita, um desespero
Como vendaval que devasta
O que a palavra viu primeiro
Essa ânsia, a imensa agonia
O que no peito ora se cala
Acolá exala em dor e poesia
Que eu por certo até diria
Não fosse a falta de tato
Com a palavra calada
Com um outro verso perdido
De um malfadado poema

A palavra tem fome
O verso é sempre sedento
Esse amor nem tem nome
Nem a poesia tem intento

Mergulho fundo, profundamente
Há em tudo o mofo desse silêncio
O acre dessas palavras usadas
Que apodreceram sem dizer
Que são minhas essas palavras
E que essas palavras são mortas

A morte, a sorte de quem não vive...
O amor, a sorte que eu já tive...

Ah! O amor...
O amor me deu tudo o que eu poderia querer
E teve a mim, com tudo o que me deu
Depois jogou tudo fora e tirou tudo de mim
E ficou com tudo o que me deu
E mais com o que tomou de mim

Não tem mais poesia
Para tirar dessas palavras em putrefação
Tem o mofo do silêncio e essa desolação

A poesia, sorte de quem não vê...

Toma a poesia
E essa pedra no meio do peito: coração
E essa morte que me sobrou: meu amor
Toma tudo o que me deu
E toma até o que me tomou...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 29/03/2011
Reeditado em 26/05/2021
Código do texto: T2876678
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