Amores Por Belle Part. 1 (Elegia Migueliana)
Hoje meu amor
Vou exorcizar meus demônios
Vou bradar pela portinhola de minhas chagas
Vou prantear de maneira intrépida
Vou libertar a anima
Hoje minha querida
Vou lhe falar de amor e de dor
Falar-lhe ânsia e pavor
Vou lhe falar sobre mim e sobre tu em mim
Apenas hoje, não calarei meu coração poeta
Hoje minha amiga
Vou me perder na reverberação dos seus versos companheiros
Vou pedir para meu relógio descansar
Vou sair em devaneio sem hora certa para voltar
Veja, Chopin chegou
Ele lhe dirá sobre a angústia abstrata
Fale Chopin, fale através das ondas sonoras de sua obra o que é sofrer
Diga, por que você como tantos outros calavam a fome com a cocaína?
É claro, é nota pós nota onde lhe encontro
Destrua com ódio esse pedaço de carvalho falante
E antes que me esqueça, dê ao meu anjo a prova de minha elegia
Olhe com meus olhos hoje
Veja que encontrei a semente da esperança em seu ser
Hoje vou lhe regar de sentimento também
Hoje vou erguer a espada e guerrear com meu passado
Essa profecia de mil vidas
Essa angústia de mil mortes
Essa carta de alforria...
...irá me levar para onde haja o verdadeiro amor
Ou a um lapso de amor surreal
Como banhei de pranto meus escritos
Como vivia a anátema de um ser só
Como apanhei e me humilhei para fugir da hegemonia do amor contemporâneo
Como muitas vezes sentei em minha fronteira sanidade/insanidade
Mas temos tempo
Ouça a sirene do chamamento
Sinta a evidência deste momento
Vamos, lhe ofereço mãos cheias de máculas
Ofereço-lhe o que sou sem receio
Perdoe o peso
Porém amigos não devem negar o que sentem
Mas não perdoe o que vou lhe dizer a seguir
Desejo estar com você
Ora, Miguel é tão irregular
Miguel escreve a catarse do seu inconsciente
Miguel tem a mente tão doentia
Miguel não é letrista nem poeta
Miguel é um anarquista sentimental
E vou seguir
Seguir para lhe dizer que tudo perdi sem nada ter
Dizer que vivo atolando em minhas lacunas
Pois são jazigos que clamam meu ser confuso
Meu ser humano como conceito final
São dias insones
Só teu bálsamo a me curar
São gotas de dor na minha tristeza torrencial
Só teu caminho, tua amizade
São evidências de minha redenção
E reflito
Pois refletir demanda introspecção
Busco-me, pois já lhe encontrei
Salto para o derradeiro abismo
E avisto meu inóspito lar
Agora começo a construir o amém
Agora devo tirar as manchas de meu espelho
Devo assistir meu pranto secando
Recolher-me a um leito qualquer
Vangloriar-me de estar acima de tudo isso
Hora de saber
Hora de fazer
Hora de se presentear
Hora de lhe encontrar
Hora de fazer chorar
E pegando o tumor sentimental com unhas irregulares
E fumar como se não tivesse dispnéia
E aguardar, com certa angústia, que vibre a máquina que me dá o prazer de sua voz
Sua voz...
Mais um lamento ainda
Mais um berro mudo da manhã
De acordar e afagar um belo nada que está sorrateiramente sorrindo para mim
Para nós...
Para nós a incerteza de amanhã
O beijo cálido que lhe devo
A minha alma, hoje nua em pêlos
A metamorfose de meu corpo gélido nos seus braços cálidos.