CHORANDO

O amor não fere.
O que fere é sua ausência.
Ao te esquecer
no calendário do ano passado,
deixei de chorar.
A vida seguiu seu rumo
e os dias me  cobriram
com um lençol de novidades.

Quando parti, tu choravas.
Por mim? Não sei.
Talvez pelo que não fomos,
pelos sonhos desfeitos,
pela ilusão esmaecida como um quadro 
sobre a parede que desabou.

Eu vi que choravas
e uma vingança doeu em mim.
Tanto que acreditei,
o tempo que investi.
Quantos dias perdi
e por qual motivo?
Para permanecer a teu lado,
servil menino de recado.

O que aprendi?
A não me dar tanto,
a me soltar aos poucos.
Atirar-me no lago?
Não mais.
Águas caudalosas enganam.
É preciso não ter pressa:
a ilusão é como as mãos 
de um prestidigitador.
Atento, olho ao meu redor.

Sei que perdi muito
daquilo de bom que havia
em minha mente de menino.
Sou um adulto,
mas não me sinto melhor.
Tu estavas chorando
quando parti,
e eu sufocava as lágrimas,
e o grito morreu na garganta.

Ainda assim pergunto:
por onde andas?