A DUPLA FACE DA NOITE

A noite tem dois lados,

O lado de cá e o lado de lá,

Como os dois lados

De uma mesma moeda.

Do lado de cá

A noite aparece

Como os que não nascem

Em berços de ouro,

Os filhos dos Zé ninguém

E das Maria vai com as outras

Aqueles que enganaram a morte

Nos berços de couro.

Desse lado de cá

A noite usa meias desfiadas

E pisa o pó da estrada esburacada.

Do lado de lá a noite criança

Nasce nos braços dos doutores

Arrogantes e orgulhosos,

A noite por lá é dona da sorte

E patroa das verdades.

Do lado de lá

A noite não adormece,

Com sorrisos provocantes

Desfila elegante

Pelas largas e iluminadas

Ruas e avenidas.

Do lado de cá à noite

Pinta com as cores do medo

Os que nas madrugadas

Vendem e são vendidos.

Do lado de cá

A noite é sonâmbula

Que perambula pelas madrugadas

Gargalhando como louca

Com sua boca desdentada .

Abner poeta
Enviado por Abner poeta em 22/03/2011
Código do texto: T2863317