A DUPLA FACE DA NOITE
A noite tem dois lados,
O lado de cá e o lado de lá,
Como os dois lados
De uma mesma moeda.
Do lado de cá
A noite aparece
Como os que não nascem
Em berços de ouro,
Os filhos dos Zé ninguém
E das Maria vai com as outras
Aqueles que enganaram a morte
Nos berços de couro.
Desse lado de cá
A noite usa meias desfiadas
E pisa o pó da estrada esburacada.
Do lado de lá a noite criança
Nasce nos braços dos doutores
Arrogantes e orgulhosos,
A noite por lá é dona da sorte
E patroa das verdades.
Do lado de lá
A noite não adormece,
Com sorrisos provocantes
Desfila elegante
Pelas largas e iluminadas
Ruas e avenidas.
Do lado de cá à noite
Pinta com as cores do medo
Os que nas madrugadas
Vendem e são vendidos.
Do lado de cá
A noite é sonâmbula
Que perambula pelas madrugadas
Gargalhando como louca
Com sua boca desdentada .