Kananciuê
Inventei a luz a partir do mofo,
e a lua a partir das aves de rapina.
Libertei estrelas do seu coração sepultado
e preferia a morte para nascer a razão.
Essa é a dança da lua negra,
errando por um céu inacabado,
vendo seu rosto refletido na água turva,
e comovendo a platéia que esconde suas armas.
Esse é um amor numa casca de semente seca,
uma variação sobre a finitude do meu mundo.
Quando a dança libertar outras luas escondidas,
para iluminar o céu de minha selva particular,
verão o funeral de um corpo que apenas dorme,
sonhando com um canto mais perigoso que a lança,
que atravessa o coração e faz a fúria se acabar.
Essa é a pintura triste sobre o rosto cor de barro,
uma reprodução da face que era o céu diluído em breu,
que um dia ainda verá o sol furioso e perseguidor
da lua fugitiva que teme a claridade.