POEMA ABORTADO

Poema abortado

Ò tu que suspiras por esses versos!

Palavras soltas como sementes

Que o vento forte espalha

Para geminarem em distantes terras,

Sabes de onde eles vieram?

Do sereno da madrugada

A cair sobre os ombros

Dos poetas seresteiros,

Da chuva refrescante

A cair sobre o solo ressequido,

Vieram das lágrimas de dor...

Dos espinhos sobre a flor!

Das fitas coloridas

Penduradas nas janelas

Do batom vermelho

Nos lábios dela

Não te admires

Por eles serem assim,

Tão simples e humildes!

Sem esmero nas formas,

Sem brilho as arestas

É que os anjos

Não são assim tão puros!

E os demônios

Não são assim tão pecadores!

Ò tu que te demoras a sonhar

Pestanejando sobre esses versos!

Sabes de onde eles vieram?

Vieram de muito longe,

Dos olhos refletidos nos vidros

Das janelas quebradas,

Vieram do fundo de um lago

Sereno e calmo,

Vieram de um rio

No trovejar violento

Das águas revoltas

De uma forte correnteza

A caírem sobre as rochas,

Vieram não sei de onde!

Sem boa origem, sem pedigree

Vieram das ruas e becos escuros,

Das latas furadas!

Não sorrias menosprezando

Suas origens,

No mundo não nascem mais cristos

Em manjedouras de ovelhas!

Eles agora nascem

Dos versos esfarrapados

De um miserável poeta.

Ò tu que criticas e corriges

Esses versos!

Somente podes saber

O que te é lícito compreender!

Mas esses versos que te escapam

Pelo canto do olho

Escorrendo por tua face

Como baba mal cheirosa

São versos mal rabiscados

Compostos em uma poesia

Abortada no útero da mente.

dedicada ao amigo Osires Duarte de Curytiba

Abner poeta
Enviado por Abner poeta em 21/03/2011
Código do texto: T2861207