TRATADO TOTALMENTE EQUIVOCADO SOBRE O AMOR
Primeiro,
Que amor não precisa d’uma rima rica
Para convencer-se do amor que é.
(Isso já me libera dos salamaleques,
dos rapapés...)
Que amor não necessita
De beijos molhados de língua ou
De arrochados amassos de pélvis
Recostados na parede do muro escuro
Dos fundos do cemitério,
N'um despautério de encoxadas
E mãos-bobas...
Amor não requer respeitar-se o cabaço
Ou, ao contrário,
De uma noite de trepadas tesudas e bem dadas
Que deixem corpos assados e extasiados...
Amor não exige de se falar ou se ouvir
“Eu te amo” ou “sem você eu morro”
Nem que se pratiquem atos heróicos,
Épicos, cavalheirescos, de socorro
A provar do valor da emoção,
Como que, do coração, num estouro...
Amor não busca sequer sacrifícios
Pela vida ou bem-estar do outro,
Nem mesmo uma parcial dedicação...
Amor também pode ser só um leve indício...
Amor pode ser algo totalmente inútil, esdrúxulo
Um lançar-se sorrindo num precipício...
Por vezes um sentimento nada, nada prático
Um abstracionismo lunático
Um silêncio estático de dar pavor
Não fosse a mudez do próprio estupor...
E ainda assim é amor – ou não.
(Não entendo nada disso. Só o sinto – ou não)