A volta da primavera

Aime, et tu renaítras; fais-toi fleur pour éclore,

Après avoir souffert, il faut souffrir encore;

Il faut aimer sans cesse, après avoir aimé.

A. DE MUSSET

AI! Não maldigas minha fronte pálida,

E o peito gasto ao referver de amores.

Vegetam louros — na caveira esquálida

E a sepultura se reveste em flores.

Bem sei que um dia o vendaval da sorte

Do mar lançou-me na gelada areia.

Serei... que importa? o D. Juan da morte

Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!

Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...

Ensina à brisa ondulações suaves!

Dá-me um abrigo nos teus seios túmidos!

Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!

Já viste às vezes, quando o sol de maio

Inunda o vale, o matagal e a veiga?

Murmura a relva: "Que suave raio!"

Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"

E, ao doce influxo do clarão do dia,

O junco exausto, que cedera à enchente,

Levanta a fronte da lagoa fria...

Mergulha a fronte na lagoa ardente ...

Se a natureza apaixonada acorda

Ao quente afago do celeste amante,

Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,

Não vês minh'alma reviver ovante?

É que teu riso me penetra n'alma —

Como a harmonia de uma orquestra santa —

É que teu riso tanta dor acalma...

Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!

Que eu digo ao ver tua celeste fronte,

"O céu consola toda dor que existe.

Deus fez a neve — para o negro monte!

Deus fez a virgem — para o bardo triste!"

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 17/03/2011
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