CEGUEIRA

Os olhos de um poeta

São janelas abertas

Nas quais me debruço

Observando a vida

Que passa na rua,

No olhar do poeta

Sou o homem que passa

Tão só e abandonado

Na companhia dele mesmo

Em meio da multidão.

Então eu paro na calçada

E olho para os lados

Tentando envergar

Quem me enxerga

Do lado de lá,

Mas é inútil continuar

Procurando meus olhos

Do lado de cá.

Às vezes tenho vontade

De fugir desse olhar

Que me perturba a consciência,

Mas meus pés me traem,

Recusando-se a caminhar

E outras vezes são meus pés

Que querem sair correndo

Atrás do tempo

Em que eu ainda possuía

Um restinho de inocência,

E então sou eu que insisto

Em ficar parado a observar

Quem me observa

Do outro lado da janela.

E quanto mais eu observo

Mais sou observado

Pois sou; ao mesmo tempo!

O homem e sua sombra,

Todos os outros homens

Escondidos em mim mesmo,

E tememos acima de tudo

A cegueira nos olhos

De quem observa

Com os olhos do mundo

O mundo da poesia.

Autor: Abner Bueno

28/08/2007

Abner poeta
Enviado por Abner poeta em 17/03/2011
Código do texto: T2854018