FIO DA NAVALHA
Um dedo deslizando perigosamente,
No cume do fio afiado da navalha,
Escorrendo por toda extensão perigosa,
E a carne temerosa do corte e do sangue
Assim percorro teu corpo em sevicio,
As mãos procurando e achando as curvas,
Mergulho nessa boca e nela me perco,
E só me acho quando desvendo tuas entranhas.
Ter teu corpo submisso aos meus desejos,
É risco eminente de ferir até sangrar,
Mas é um vicio esse gosto de te ver em gozo,
Como a segurar a espada afiada no alto da vitória.
Se no apogeu do delírio da paixão ardente,
Misturamos o mesmo prazer no acaso da aventura,
E desdenhamos o amor disfarçando somente a luxúria,
Sabemos, quando abraçados, no descanso merecido,
Que o tudo que nos permitimos está além da paixão crua.
Chega de deixar tua cama morna de nos dois,
Desdizendo essa vontade cálida de ficar até de manhã,
Vamos confessar, mesmo contrariando o combinado,
Que de agora tem que ser para valer e para sempre.
Joguemos a navalha e os riscos do corte ao vento,
Troquemos o acaso feito dos pedaços cortados pelos medos,
Envolvemo-nos em panos leves de seda tecida com nosso suor,
Admitamos que agora já tenha que ser para valer e para sempre,
Sem esse esdrúxulo gosto pelo prazer de viver no fio da navalha.