PORQUE O MONDEGO CANTA BAIXINHO(versão 2006)

Coimbra, a minha terra banhada pelo rio Mondego possui uma universidade centenária e estudantes, a maioria de outras terras longe daqui que se vestem de fato e capa preta, que além de estudarem possuem uma aturada vida ex-curricular, passeando pela cidade noite alta a cantar ou apenas de festa em festa. Cantam o fado de Coimbra, um dos fados tão típicos de Portugal e que canta a saudade da despedida, dos estudos, de um amor mais ou menos bem conseguido. O texto que se segue é a segunda versão de um fado que fiz em tempos idos de faculdade.

PORQUE O MONDEGO CANTA BAIXINHO

(versão 2006)

Deixei-te na despedida

No altar da estação

Ia de férias

Para longe de ti

Ia para a minha terra

Porque ia começar o verão

Senti que fiquei em fim sozinho

Chorei sem ninguém notar

Porque o Mondego canta baixinho

O amor,

Hó o amor

Era fado

Que desconhecia

Até

Te ter por fim

A meu lado

E ter mudado o meu destino

Por acaso ou

Porque o Mondego canta baixinho

Eu era de longe

Tu eras daqui

Eu estudava

Tu trabalhavas

E foi por acaso

Que te conheci

Capa negra lancei

Sobre ti

Como prova

Do meu carinho

Trocámos afectos

E juras de amor

Abençoados

Por bom vinho

Sem nada repararmos

Porque o Mondego canta baixinho

Animado pelo paraíso

Deixei de dar atenção

Aos livros, à sebenta

E de casa veio

A terrível sentença:

Iria voltar

E arranjar um emprego de homem

Deixando a vida de doutor

Mas foi por ficar longe de ti

Que se me apertou o coração com dor

Porque o Mondego canta baixinho

Jamais te veria

Iria para o outro lado do mundo

Poço

Sem fundo

Onde a saudade

De ti

Me iria consumar

Por tanto

De ti gostar

Hoje trabalho num escritório

Casei

E tento ser feliz

Mas ainda sinto a tua falta

E dos tempos

Que da vida era aprendiz

E por isso

De vez em quando

Regresso à cidade

Para te encontrar

Pois foi por ti

Que o meu coração

Ainda não me deixa respirar

Morena

De sardas

E olhar cativante

Tudo passou

Nada se repete

Mas desde que te vi

Que soube que nada seria como dantes

Ainda te amo

Ainda tenho por ti carinho

Mas só ele soube

Porque assistiu a tudo

Porque o Mondego canta baixinho