SALIVA SECA
Não eu.
Você devia saber
dessas sentimentalidades,
dessas coisas adocicadas e enjoadas,
das intempéries da carne.
Devia saber que entre mim e você
há um eu que já não há,
que se esconde atrás de mim mesmo,
do outro eu criado.
Engulo em saliva seca essa dor
de não saber e de nem sentir,
apenas ser e saber, sem
saber ser.
Você devia saber que
os delicados toques se firmam
no acaso, antes mesmo
do encontro das peles e dos saberes.
Mas só eu sei, você não.