Eu te viajo no pensamento

Ó tu celeuma

ó tu miséria

tu vil consciência

tiro de atiradeira

vergonha uma ofensa

pensamento descabido

cabimento do tempo imundo

verdade na notoriedade

consumo de gigabite

ou simplesmente irracional

daqui

do além

do onde está

do que será

ó tu criança empinada

boca desdentada

tu virgem da pedra amandada

tu tesoura em riste

um punhal

uma adaga

uma arma de artista

um artista na sua armada

fiel trato de duelista

pintura de calmaria e de budista

finta de Romario

ou de Messi

uma esquiva

uma esquina

um filme com pipoca

ou sou e tu sabes que sou

ou és e eu não sei que sou

ou somos um bando

ou somos uma turba

ou somos o que somos

e sempre seremos

ou és o que sou

ou sou o que és

e por ai entre o misérrimo

tudo cabe até o desconhecido

tudo cabe até o sentido

que anda sempre de mãos dadas com o amor

porque o amor é falta de sentido

o amor é

...amor um vicio de cocainómano

aos trambolhões plás vielas

aos trambolhões pelas vielas

aos trambolhões pela minha vida

que me encanta na tua ardência

que me é sinfonia

e mesmo assim

por entre o tempo baldio

nas esteiras da vida

imos insanos

dos ventos andados e escapulidos

vibrantes e malcriados

pelas ruelas dos palhaços

feito saltimbanco

aos gritos na noite inteira

com escusas de serenata

plá noite inteira

com escusas de trovador

com escusas de amor

que nos consomem a esteira e a carteira

ah

na noite apregoando

pudores e desamores

baldes de água fria

fossas

choros

despudores

e lamuriações

... o gajo da esgueira

ou o filho... matou o gato

ou o cabrão f... a gaja

... se o apanho nalguma esquina...

ai

vai ser um ver que te avias

pois segurem as freiras

que eu esquizofrénico

frenético

uma bala

uma febre

o demónio

o santo

tamiflu

deferoxamina

estricnina

overdose

eu em transe

loucura póstuma

um corpo ferido

no tórrido calor do verão

um corpo ustulado

um desgosto

uma dor

uma ofensa

uma morte por ofensa

um morto por oração

neste mal de amor afrodisíaco

que se torna triste e sorumbatico

que excita

até ao talo

e te come as entranhas

e de pontapé

em pontapé

pelo rabo acima

te enfia

e não sendo o tipo judeu

que pelas vias

andado se avia

que tal fedelho

não meta o bedelho

onde não é nem for chamado

dizei a fulano tal

que de ganas padeço num mal

dizei-lhe

que inquisidor

sou um traste de horror

e tenho limpa por estrear

o meu cadafalso amolado

pristinico e imolado

... que é um espelho

de um lado eu

do outro o mistério

do outro o mistério!

ai que chatice...

esta de ouvir os radiotolistas

e os aerotransportados

ai que chatice...

acender uma navalha

abrasiva sobre o escalpe do vandalizado

ai

que brutos andam os desesperados

os neutralizados

os mal amados

os filhos de tal

os sem eira nem beira

... que triste tu me tomas aventurosa

... eu Leão a solta

eu fera hedionda e austera

felideo velho e cansado

eu Carneiro de signo

tu Balança de ascendente

eu no cartel uma palhaçada

tu cigana

me tens tomada

pela alma

e pelas ruas caminhadas

tu...

nos entrefolhos da insanidade

nos brutais e acérrimos ditos

no papel-jornal

no papel-moeda

tu amurada donzela

singeleza e bela

dista dos tempos que não são lidos

vida em vida a toa

que sobre tão vasto no mundo procuro

um amor maior que o meu

e dizem com lisura

que soltas estás

no comportamento à solta

estás para além da Lua

do sol e do mar

tu desconhecida

e imensidão

daqui para lá de Sagres

daqui para lá do cabo

num salto

um assalto

uma escarpa um promontório

uma barca uma nau

um velho feito ao mar

e é sideral

um hemisfério austral

é tropical

mil auroras boreais

é Vera Cruz

um acidente depois do caminho

onde tropeço no teu coração

e jamais soube dele fugir

e é dos aventurosos

tais torturas que despojado

me tomas as somas

e me perfuras a certeza de nada ser

pois em ti deixei meu templo

num sopro de um beijo

tu perfume da terra

hino cântico nacional

tu assambarcadora da minha alma

tu paixão meu souto

um astrolábio

uma fisga

uma fita de cetim

um acordeão

tu gatuna sarapintada

assolapada

brutalizada

desgovernada

uma pia

um pio

um colibri

uma cor de papel

um beija-flor no beiral

tu transatlântica

transviada

ah podem...

com nomes chamarem-me o que quiserem

podem

não me incomodam

podem

ciumentos

achados

não tidos nem adidos

podem os fidalgos

que não temo

nem aos ricos

patrões ou moços de recados

podem os gordos

os inflados

os obesos de ódios

e os magros de raiva

podem os flautulentos

e os peidosos

os bufos

e os arrabaldes

podem todos...

não temo jagunços

ninfomaníacos

bêbedos ou pedrados

debochados e desbocados

imperadores e oradores

padres e o Diabo

não temo na vida

em ti caminhada

o mundo de sobranceria

o mundo eu disse:

não temo

o perdão

nem te achar assim

quando digo assim estremeço

quando digo sim eu estremeço

quando o sim é o que digo

e o que dizes é sim

o tempo é uma viola

numa canção de violão

ultra intemporal

ultra infernal

urubus

papagaios

e a Amazónia

o grito da bicharada

lambo as feridas da caçada

lambo tempo corrido atrás da vida

vinte foram todas as que vivi

entre todas as que imaginei

Deus não se poupou a esforços

e me foi mandando à vez

de cada vez

em formas

de outras formas

até não haver mais nenhuma outra

que não a forma de homem

a forma de homem que te amanheceu

para te encontrar em vida

depois do Armagedão

quiseram as águas do Atlântico azul

que assim fosse

quisera tão enorme rio

no meu caminho poderoso erguido

pois as coisas de Deus não se ganham

ah este que cobre de um mundo ao outro

desde Norte a Sul

ah este que te cobre pela metade

e nos aparta demais

não é precipício

nem achatado

e tem o tamanho da minha palma

que abeira na tua

e assim de azul em azul

tudo é céu

tudo é amor

tudo é tempo

tudo és tu

eu sou o precisar

do sentido

que além de mim é nada!

para!

diz o pensamento

à escrita

para

diz-me o tormento

enquanto dobro as esquinas

de todas as ruas

e dobro em cada uma

para te encontrar

em todas as esquinas

em todos os becos sem saída

de todas as ruas

enquanto dobro todas as esquinas

não durmo por te pensar

por pensar noutras tantas coisas

tu forma de ausência

ansiedade

a voz

o sobrenatural

o abissal

que arrebata

que amo

que temo

...sabes...

o amor é a magia

de encantar

o amor é o lugar perfeito

onde tudo cabe

o amor é tudo

onde cabes tu

não cobra

não tem pressa

não passa

é o rés-do-chão da insanidade

o altar da filantropia

é o esquema das cinco

um beijo sentido

o sabor dos teus lábios

o rosto no riso

o sorriso

no riso dado

o choro malandro

o oposto da misantropia

a incandescência do teu olhar

a maré baixa do teu sonho

a maré alta do teu cantar

Luas cheias pecados

latidos, gemidos e uivos

Luas novas pecados

fulgor, sentir, amar

e cantas...

... e cantas...

e cantas nas horas

de todos os dias enamoradas

por ti defronte da vergonha

de me saberes possesso

no teu amor de adultério

... já é madrugada bem alta

e ao te escrever tisana

um tremor de terra desencadeou

e abalou a noite

talvez com ciumes teus

talvez um aviso meu

mas na verdade o céu depenado

tem os mesmo pirilampos

de todas as noites

nos mesmos lugares

as estrelas brilham nesta relatividade irritante

da noite ser noite

para assim desordenado

te viajar em pensamento.

Vampiro

PauloMartins
Enviado por PauloMartins em 10/03/2011
Reeditado em 10/03/2011
Código do texto: T2840382
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