DA JANELA DE MEU QUARTO

Dormes...ao calor, toda espraiada,

As pálpebras lânguidas, o corpo descoberto.

E dormes silenciosa. A face bela

À frouxa luz do quarto iluminada,

E a brisa a voar pela janela.

Dormes... Moema querida, desprovida

Das finas vestes que ao poeta inflama,

Os teus cabelos nos lençóis caídos,

E até ao assoalho se derramam.

E dormes... aos sons dos meus suspiros atrevidos.

Lá da janela, onde o silêncio impera,

Furtiva imagem te roubei, divina,

Quando o vento acalmava a primavera,

Do alto, eu assoprava tua cortina.

E dormes...à espreita do amor por sentinela

A noite ia correndo, e nos telhados

A lua, nos quintais, sereno,

As luzes se apagando noutros quartos,

E noutros tremulando mais amenas.

E dormes...E tudo eu avistando lá do alto.

Voltava a te fitar, depois, mais triste,

Querendo me explicar à desventura.

Por que cousa tão bela assim existe?

E o pranto fez-me a pausa na amargura...

E dormes ainda... quando com a colcha te cobriste.

Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 06/11/2006
Reeditado em 30/08/2007
Código do texto: T283412