DA JANELA DE MEU QUARTO
Dormes...ao calor, toda espraiada,
As pálpebras lânguidas, o corpo descoberto.
E dormes silenciosa. A face bela
À frouxa luz do quarto iluminada,
E a brisa a voar pela janela.
Dormes... Moema querida, desprovida
Das finas vestes que ao poeta inflama,
Os teus cabelos nos lençóis caídos,
E até ao assoalho se derramam.
E dormes... aos sons dos meus suspiros atrevidos.
Lá da janela, onde o silêncio impera,
Furtiva imagem te roubei, divina,
Quando o vento acalmava a primavera,
Do alto, eu assoprava tua cortina.
E dormes...à espreita do amor por sentinela
A noite ia correndo, e nos telhados
A lua, nos quintais, sereno,
As luzes se apagando noutros quartos,
E noutros tremulando mais amenas.
E dormes...E tudo eu avistando lá do alto.
Voltava a te fitar, depois, mais triste,
Querendo me explicar à desventura.
Por que cousa tão bela assim existe?
E o pranto fez-me a pausa na amargura...
E dormes ainda... quando com a colcha te cobriste.