ATENDIMENTO

Você me pediu uma poesia;

resmungou alguma coisa parecida com uma exposição.

Não entendi muito bem não!

Mas com você é assim mesmo:

Pede e eu simplesmente obedeço.

Logo você me pede uma poesia.

Você, que tanto tem de margarida

mas que a última pétala jamais será um malmequer.

Aliás, pétala alguma sua é malmequer.

Com você tem que se saber brincar;

puxa-se uma pétala e diz-se assim:

- Bem-me-quer!

Puxa-se outra pétala e de novo se diz:

- Bem-me-quer!

Com você tem que se saber falar.

Seu encanto é ser meio muda e esperar mudez,

meio sem jeito de falar e com todo jeito de ouvir o silêncio das coisas,

mas quando fala a gente escuta atento e quieto e submisso.

Com você tem que se saber estar.

Não se pode olhar de frente.

Avermelha-se toda. Perde o rebolado.

Por certo um buquê feito com você, com seus olhos

com seu branco e seu amarelo diáfanos

iluminaria todas as sombras do mundo.

Você é a mais bonita dentre todas as outras flores.

Com você tem que se saber fazer.

Quando pede uma poesia

sei que quer somente uma poesia.

Você nem sabe que é a mais pura poesia,

em carne e osso, ou se sabe, disfarça.

Você é a minha poesia predileta. A única.

Então eu finjo que escrevo uma poesia,

todo mundo vê que eu escrevi você;

só você não vê

(ou finge que não vê).

E me fazes o homem mais feliz do mundo.

Chego e pensar que sou mesmo poeta.

Caramba!