AUTOBIOGRAFIA DE UM POEMA
o poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega fingir o que é a dor
a dor que deveras sente
01/04/1931-Fernando Pessoa
NÃO QUERO ESCREVER POEMAS
NÃO QUERO LER MEUS POEMAS
NÃO QUERO PENSAR EM POEMAS!
EU QUERO É VIVER OS POEMAS
EU QUERO É SER MEUS POEMAS
EU QUERO É VIVER UM POEMA..!
UM POEMA QUE APENAS FOSSE
A FACE DE MINHA OUTRA FACE
E QUE MAL OU BEM ME LEVASSE
BEM PERTINHO DE VOCE
E SUSSURRASSE DOCEMENTE
MINHAS JURAS DE AMOR....
UM POEMA QUE ME FALASSE
O DOCE AMARGO DO ESCARRO
E QUE FOSSE TÃO BIZARRO
NO ÂMAGO DO MEU SARRO
E REVELASSE NAS ENTRANHAS
O SEGREDO DE MINHAS MANHÃS..
UM POEMA QUE APENAS FOSSE
UMA FLOR E PEQUENO PÁSSARO
A FLOR QUE TIVESSE O PERFUME
MAIS AMARGO DO MEU CIÚME
E ME AZEDASSE ATÉ AS ENTRANHAS
DOS MEUS VÔMITOS DE LAZANHAS...
O PEQUENO PÁSSARO QUE TIVESSE
GARRAS DE AÇO E ASSAS DE FERRO
E MAIS FORTE DO QUE O MEU BERRO
ME LEVASSE ATÉ ÁS ENTRANHAS
DAS MAIS PROFUNDAS MONTANHAS
ONDE HABITA AS MAIORES TERNURAS
E AS MINHAS SECRETAS JURAS DE AMOR...
UM POEMA ASSIM SERIA O AMOR
UM AMOR TÃO FORTE QUE A DOR
PUDESSE SENTIR SEM FINGIDOR
A DOR QUE DEVERAS SENTE..
COMPLETAMENTE.!
UM POEMA ASSSIM SERIA PAIXÃO
A PAIXÃO MAIS FORTE QUE A RAZÃO
FOSSE APENAS UM RASGO NO CORAÇÃO
E UM BURACO NEGRO EM MINHA ALMA
DISPOSTA A SENTIR O GOSTO DA LAMA
E O FRIO DA MINHA SOLITÁRIA CAMA....