PODE SE MORRER NA SOLIDÃO
P O D E S E M O R R E R N A S O L I D Ã O
Não deixes seus ossos ao sol
Trate a úlcera do seu coração
Pois existem pedras no caminho
E há espinhos na haste da flor
Estabeleça seus objetivos
Nem sempre estar cercado seja acompanhado
Acontece de se estar rodeado de ilusão
Sons, risos, braços, pernas, mas só...
De que adianta clamar por alguém?
Soluçar! Nem assim responderão
Seu grito irônico ecoará pelo deserto
Pode se morrer na solidão
Lamuriar! Pura perda de tempo
É tão real o cálido luar
Busque tua terra prometida
Beba da água do oásis
Olhe a sua volta: solitária
A solidão está dentro de nós
Ortros! Abasteça se de retidão
Górgona! Clame por mãos estendidas
Não aceite o pânico
Cante lindos versos ao crepúsculo
Segrede brandos verbetes que não dizem nada
Murmure sons desconexos para a solidão
Cuidado! Nunca é tarde para viver
Enxugue as lágrimas
Tens da terra ao azul do céu
Ainda assim não tens nada
É imenso o rio do abandono
É intensa a memória do rancor
Veja que a vida não é feita de brocado
Aonde andará seu par?
(dezembro/1985)