DIAS DE CARNAVAL
Se eu tivesse um olhar menos triste, sairia
com os amigos pelas ruas
de minha cidade.
Iria fantasiado de pierrô, ou de qualquer coisa,
beberia até cair e diria
as maiores bobagens,
e todos ririam de mim e comigo.
Mas meu olhar denuncia o vazio
que se instalou aqui.
Ah, eu te espero,
como o folião espera a escola de samba
passar pela avenida.
Tenho em mãos confetes de sentimentos,
palavras apaixonadas.
Estás longe.
Estás surda e
recolhida em tua alegria, gozando
da liberdade de não me ver
e, não me vendo, não ter de encarar
este meu olhar triste.
São poucos os dias de carnaval.
Já o meu olhar triste ficará por muito tempo,
o ano inteiro,
pelas ruas, no silêncio
de quem não quer sambar.