Anjinho

Não chorem! que não morreu!

Era um anjinho do céu

Que um outro anjinho chamou!

Era uma luz peregrina,

Era uma estrela divina

Que ao firmamento voou!

Pobre criança! dormia:

A beleza reluzia

No carmim da face dela!

Tinha uns olhos que choravam,

Tinha uns risos que encantavam!

Ai meu Deus! era tão bela!

Um anjo d'asas azuis,

Todo vestido de luz,

Sussurrou-lhe um segredo

Os mistérios de outra vida!

E a criança adormecida

Sorria de se ir tão cedo!

Tão cedo! que ainda o mundo

O lábio visguento, imundo,

Lhe não passara na roupa!

Que só o vento do céu

Batia do barco seu

As velas d'ouro da roupa!

Tão cedo! que o vestuário

Levou do anjo solitário

Que velava seu dormir!

Que lhe beijava risonho

E essa florzinha no sonho

Toda orvalhava no abrir!

Não chorem! lembro-me ainda

Como a criança era linda

No frio da facezinha!

Com seus lábios azulados,

Com os seus olhos vidrados

Como de morta andorinha!

Pobrezinho! o que sofreu!

Como convulso tremeu

Na febre dessa agonia!

Nem gemia o anjo lindo,

Só os olhos expandindo

Olhar alguém parecia!

Era um canto de esperança

Que embalava essa criança!

Alguma estrela perdida,

Do céu c'roada donzela,

Toda a chorar-se por ela

Que a chamava doutra vida!

Não chorem, que não morreu!

Que era um anjinho do céu

Que um outro anjinho chamou!

Era uma luz peregrina,

Era uma estrela divina

Que ao firmamento voou!

Era uma alma que dormia

Da noite na ventania,

E que uma fada acordou!

Era uma flor de palmeira

Que um céu d'inverno murchou!

Não chores, abandonada

Pela rosa perfumada!

Tendo no lábio um sorriso

Ela foi-se mergulhar

— Como pérola no mar —

Nos sonhos do paraíso!

Não chores! chora o jardim

Quando murchado o jasmim

Sobre o seio lhe pendeu?

E pranteia a noite bela

Pelo astro, pela donzela

Morta na terra ou no céu?

Choram as flores no afã,

Quando a ave da manhã

Estremece, cai, esfria?

Chora a onda quando vê

A boiar uma irerê

Morta ao sol do meio-dia?

Não chores! que não morreu!

Era um anjinho do céu

Que um outro anjinho chamou!

Era uma luz peregrina,

Era uma estrela divina

Que ao firmamento voou!

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 26/02/2011
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